sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Amamentação prolongada


Deitada no colinho, olhos nos olhos, Maria Lúcia acaricia sua mãe enquanto mama em seu peito. Satisfeita, ela sorri e desce novamente ao chão para brincar. Lindo de se ver... Mas não é todo mundo que pensa assim. A pequena Malú tem 2 anos e 2 meses e o fato de ainda ser amamentada incomoda muita gente.  “Eu estava em um laboratório quando a coloquei para mamar e a senhora que estava ao meu lado disse que era um absurdo. E o que mais me chateou foi que ela falou para minha filha que aquilo era muito feio”, conta Raquel Teixeira de Lima Pedro, mãe de Malú e de Davi, que tem 7 meses e divide os seios da mãe com a irmã.

Assim como Raquel, outras mães que decidem continuar a amamentação após os dois anos de idade da criança também sofrem esse tipo de preconceito. Kalu Brum, jornalista e uma das autoras do blog Mamíferas, acredita que este tipo de opinião ganhou força com a crescente banalização do corpo feminino. “A imagem que vemos muitas vezes, da mulher como uma mercadoria, apenas para usufruto do homem, contribui para que as pessoas te olhem amamentar como se fosse algo libidinoso”, reflete Kalu, que amamentou Miguel até os 3 anos e 7 meses e teve uma de suas fotos censuradas pelo Facebook porque mostrava seu filho mamando.

Em maio, a revista Time trouxe à tona essa mesma polêmica quando publicou na capa a foto de uma mãe amamentando seu filho de 3 anos que alcançava seu seio com a ajuda de uma cadeirinha. Muitos comentários ofensivos e hostis foram feitos sobre a publicação, por considerarem a imagem com conteúdo sexual.

Essa é uma  interpretação distorcida e triste da amamentação prolongada. Tanto que, incentivar e promover a amamentação até os 2 anos ou mais é um dos objetivos da Campanha Nacional de Amamentação 2012, lançada pelo Ministério da Saúde no dia 1º de Agosto, como parte dos eventos que integram a 21ª Semana Mundial de Amamentação. Infelizmente, apesar dos esforços do Ministério da Saúde, alguns profissionais ainda desestimulam a amamentação após 1 ano de idade. “Levei a Malú com 14 meses ao pronto socorro por conta de um resfriado e o pediatra de plantão disse que o leite do meu peito não servia mais para ela, que era melhor dar outro tipo de leite”, conta Raquel, indignada. Ela considera seu leite uma  fonte importante de nutrientes para seus dois filhos.

E ela está correta.  Pesquisas mostram que o leite materno, após o primeiro ano de vida, não é apenas uma “aguinha” sem benefícios. Dados da UNICEF mostram que, no segundo ano de vida, 500ml de leite materno fornece 95% das necessidades de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% das de proteína e 31% do total de energia de que uma criança precisa diariamente.

Além disso, Rosane Baldissera, nutricionista e consultora em amamentação em Porto Alegre, ressalta o fato de o leite materno ser o mais adequado para os bebês e que, quanto mais tarde se introduz o leite de vaca, menor a probabilidade de as crianças apresentarem reações alérgicas.

“A amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses de idade e mantida até os 2 anos ou mais. Não existe embasamento científico para se dizer o contrário, isso só mostra uma visão ultrapassada sobre o assunto”, afirma a pediatra Elsa Giugliani, professora titular de pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em aleitamento materno pelo IBLCE (International Board of Lactation Consultant Examiners).

Outro benefício da amamentação continuada é o fortalecimento do sistema imunológico. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estudos mostraram que crianças não amamentadas no segundo ano de vida têm duas vezes mais chance de morrer devido a doenças infecciosas se comparadas a crianças submetidas à amamentação prolongada.

Amamentar é, principalmente, um ato de amor, um momento especial entre mãe e bebê que fortalece o vínculo entre os dois. Kalu garante que ter amamentado seu filho por mais tempo não o deixou dependente, muito pelo contrário. “Ele é seguro, decidido e aceita as pessoas com facilidade. Acredito que esse fortalecimento ocorreu porque ele esteve o tempo que quis no ninho, com a face no meio do coração da mamãe.”

Daniela de Almeida Andretto, psicóloga de São Paulo, especialista em Estudos e Intervenções com Famílias, também concorda que amamentar uma criança com motivação desenvolve uma relação de troca muito intensa, promovendo a segurança e fortalecendo o emocional desse indivíduo. “Apesar de poucos estudos mostrarem os aspectos emocionais da amamentação continuada em comparação com o desmame precoce, existem artigos que referem que crianças amamentadas têm maiores índices de inteligência e maiores chances de serem adultos mais seguros.”- complementa Daniela.

Mas, afinal, até quando amamentar? O desmame natural deve acontecer quando mãe e bebê acharem que estão prontos para ele. Enquanto a amamentação continuar a ser prazerosa para ambos, não há nada que os impeça de prosseguir. Não há uma fórmula certa, cada dupla de mãe e bebê seguirá o seu próprio caminho. Algumas mães vão conseguir praticar a amamentação continuada, outras tomarão a decisão de desmamar mais cedo mas, o mais importante disso tudo é que todas tenham condições de conhecer os benefícios de cada escolha para, então, ficarem tranquilas por terem tomado as melhores decisões para seus filhos.

Benefícios da amamentação continuada para a criança

- Diminui o risco de alergias
- Protege contra infecções respiratórias, entre outras
- Promove uma melhor nutrição
- Diminui risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes
- Reduz chance de obesidade
- Favorece a capacidade cognitiva
- Melhora o desenvolvimento da cavidade bucal
(Fonte: Dados do Ministério da Saúde)


Fontes

Gestamater (www.gestamater.com.br)
Mamãe & Bebê (www.mamaebebeamamentacao.com

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